PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Cerca de pouco mais de um ano atrás, levei minha mãe para o mercadinho aqui do bairro.
Consegui uma vaga, estacionei, e deixei ela a vontade para suas pequenas compras.
Nessas horas em que não se tem nada para ler, nada para observar a não ser alguns cachorros brincando pela rua, ou pessoas com suas sacolas num vai-e-vem contínuo bem típico de uma manhã de domingo, o tédio me empurra a buscar alguma música no rádio, mas parece que não toca nada que preste naquele momento.
Quem sabe seja uma hora apropriada para se debater com os tais Testemunhas sobre teología, mas cadê eles???

Depois de algum tempo "ocioso" levo um pequeno susto quando um senhor me chama pela janela...

Ele vendia "canetas", e me oferece por apenas 5,00 reais dizendo estar em dificuldades e desempregado há dois anos. Nessas horas com aquele sentimento de culpa que nos atinge, ficamos mesmo enternecidos com crianças ou idosos que se encontram em condições extremamente desfavoráveis.
Aquele senhor não me era estranho. É daqueles tipos que encontramos eventualmente na fila da padaría, ou na banca de revístas, ou no ponto de ônibus, mas nunca sabemos o nome, ou de onde seja. Sabemos apenas que é da região.

Mostrei algum interesse que na verdade não tinha nas suas canetas, me lembrando até da falta que fazem as vezes em casa quando se atende o telefone, e na hora de se anotar alguma coisa, vê que as filhas surrupiaram todas as canetas ao alcançe das mãos e até dos olhos...

No meio da negociação quando já quase em lágrimas pela situação terrível que narrava aquele senhor, por algum motívo citei o governo pejoratívamente.

O homem MUDOU...Seus olhos se arregalaram, suas pálpebras aceleraram a mudança fisionômica do outrora humilde, para o atual militante!

Começou a discursar bem ao meu lado:  - O Lula é o melhor presidente que nós já tivemos!!!!!
Graças a ele, posso vender minhas canetas com dignidade...minha família toda melhorou substancialmente de vida gráças a esse grande homem...!!!!

Eu fiquei sem entender a mudança brusca, e meu outrora sentimento de culpa se transformou em sentimento de paralizía frente à uma demonstração de "possessão"!!!!

Como minha mãe retornava com sua sacolinha de compras, dei por encerrada a negociação com aquele senhor, sem obviamente comprar nenhuma de suas canetas.  Agradeci, e abri a porta para que ela entrasse.

Enquanto explicava pra ela o que eu mesmo ainda tentava entender, olhei pelo retrovisor, e ví novamente aquele senhor já com os ombros agora novamente caídos, coluna curvada, e a expressão miserável "cantando" outro possível cliente!!!

O homem estava empregado, perdeu o emprego, foi obrigado a sobreviver vendendo canetas, e ainda assim mantinha o seu "Heill" de prontidão!!!! 

....Ah sim!  Talvez obtivesse mais sorte se estivesse no ramo de flôres...com boas perspectívas no setor de "cravos"...

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